04/07/2018

TBM-04 Mine, Kosuke Quintet - 2nd Album (1970)


Título: 2nd Album
Data: 1970
Artista / Grupo: Mine, Kosuke Quintet
Nº do Catálogo: TBM-4, TBM-2504 (Reedição 1977)

Line-up:
Kosuke Mine - Saxofone Alto e Soprano
Yoshio Suzuki - Contrabaixo
Hiroshi Murakami - Bateria
Yoshiaki Masuo - Guitarra
Takashi Imai - Trombone

Faixas:
01 - Y.M. (11:42)
02 - Brother in Law (11:48)
03 - Striped Slack (13:51)
04 - Chin San Take 1 (04:28)
05 - Chin San Take 2 (03:57)


O segundo álbum de Kosuke Mine gravado na toca dos ratinhos - após o muito sólido "Mine" (TBM-01) - é uma competição entre membros da banda para ver quem desaba primeiro com as paredes do estúdio, através de tsunamis sonoros. A adição da guitarra do aqui ainda muito jazzístico Yoshiaki Masuo (virar-se-ia para ritmos mais pop nas décadas seguintes) cria uma espécie de parafernália sónica, uma robustez destrocada de cordas, possibilitando parcerias perigosas com o contrabaixo subindo escadas de Yoshio Suzuki. Y.M., a primeira faixa, é marota como tudo. Nem de aquecimentos esta banda precisa. O soprano de Mine grita com uma incisão de pregador e começa a swingar como um sátiro atrás de ninfas. O baixo percorre as escalas para acompanhar o hipnotismo do sopro, já a guitarra, lá ao longe, vai dando conselhos na forma de acordes tímidos. O saxofone, descontrolado na ânsia de queimar páginas de pautas musicais prossegue quase isolado na sua busca. Eis que a finura do instrumento se transfigura numa sirene estridente. Êxtase puro, intensidade almofadada depois pelo trombone cheio de ar de Takashi Imai. A guitarra agora perde a timidez e dialoga livremente com o outro instrumento. E depois descola dele, decide solar. Mas, afinal, sempre há um Wes Montgomery japonês? Sem exageros, as linhas de Masuo são claras, rápidas, nunca perdidas numa petição qualquer de complexidade lírica. Cada tiro é um golo. Que extraordinária e lúcida prestação, esta! E, como um avião que aterra na pista, a guitarra bandolineira deixa a bateria de Murakami expressar-se e regressar a uma versão despachada e sintetizada do tema. Com os cabelos em pé e sem fôlego, passamos para a próxima com um sorriso estampado no rosto.

Brother in Law pertence a uma categoria de composições que pessoalmente gosto de chamar: "eu bem te avisei..." Com um estalar dos nossos dedos, há qualquer coisa aqui de uma confirmação de um lamento, qualquer coisa saída de uma comédia de enganos, um encolher de ombros perante as tragédias da vida com um certo sarcasmo à mistura. "Eu bem te avisei..." - é isso que ecoa o alto de Mine no meio de uma banda completamente à sua mercê, junta para entregar a melodia delico-doce. No entanto, atente-se bem às guitarradas de Masuo, sempre pertinentes, sempre no fundo, no sítio e no segundo certo. Que distribuição de mimos! O solo do saxofone põe o pé em território blues - e de que maneira. Chora por nós, Sr. Mine, mas não te esqueças de nos enxugar os olhos depois. Imai a seguir tenta chegar aos calcanhares de Mine, mas acabo por me concentrar mais nos estrondos da bateria de Murakami, verdadeiros sound-effects para um gag físico e melancólico. São agora as cordas da guitarra que nos embalam numa banda que se torna trio por uns minutos. A suavidade toma conta da faixa e é impossível não balançar o corpo, bater com o pé no chão, estalar os dedos e beber outro copo de gin tónico ou outra bebida alcoólica semelhante. Reduzindo ainda mais os instrumentos, o contrabaixo dialogando com a bateria num duo de fazer "yeah" a cada momento. E Mine volta a avisar-nos. Depois, Imai atrás dele. Logo a seguir, a banda que voltou a ser um quintento. Fechem a loja, rapazes. It's a wrap! 

A bateria e o contrabaixo a colocar tudo em pratos limpos em Striped Slack... Cada vibração de corda e cada prato batido, um presságio. Entram os sopros para confirmar. Imai tenta aguentar o início muito promissor. A bateria, frenética, não brinca em serviço. Masuo, auxiliando o amigo trombonista, vai seguindo os acordes e cede algumas ideias para ambos continuarem a conversa. Ambos calam-se para deixar Mine endiabrar os sentidos (como sempre tem feito desde a primeira faixa). Neste solo, temos direito a muitas coisas: provocações infantis (um "nha, nha, nha" em saxofone), subidas de escala para o infinito e mais além, descarrilamentos lógicos, uma tentativa de virar o instrumento ao contrário num carnaval infernal em que toda a gente é obrigada a dançar. A guitarra de Masuo, por momentos, estremece e vibra violentamente, acompanhando o incêndio auditivo do band-leader. O seu solo a seguir avant-gardizasse e de Wes Montgomery passamos a Sonny Sharrock numa questão de meros segundos. Duas formas radicalmente distintas de encarar o instrumento, duas técnicas completamente diferentes invadindo os nossos ouvidos atentos. Não podemos deixar despercebida esta versatilidade, que bem pode ser mais uma dupla-identidade, do guitarrista. É ele o melhor solista do álbum. 

Nos dois takes de Chin San somos convidados a participar numa calmaria inquietante, na senda do Tears for Dolphy de Ted Curson. É uma composição curta, mas a mais introspectiva de todo o álbum. Pessoalmente, é o primeiro take que mais me enche as medidas, isto porque ele contém um solo astral de Masuo que estranhamente foi silenciado no segundo, esse muito mais orientado para os instrumentos de sopro (e com um solo melhor de Mine). Mesmo assim, Masuo leva a introspecção ao paroxismo com as suas vibrações espirituais, os seus acordes quase tirados de uma balada de rock progressivo. Será esta outra das suas facetas? Quantas mãos diferentes pode ter um guitarrista? Excelente fecho para 2nd Album, um álbum que em nada fica atrás do primeiro.


Classificação: ****
Melhor Solista: Yoshiaki Masuo
Melhor Faixa do Álbum: Brother in Law