28/02/2019

TBM-05 Albert Mangelsdorff Quartet - Diggin' - Live At Dug, Tokyo (1971)


Título: Diggin' - Live At Dug, Tokyo
Data: 1971
Artista / Grupo: Albert Mangelsdorff Quartet
Nº do Catálogo: TBM-5, TBM-2505 (Reedição 1977)

Line-up:
Albert Mangelsdorff - Trombone
Heinz Sauer - Saxofone Tenor
Günter Lenz - Contrabaixo
Ralf Hübner - Bateria

Faixas:
01 - Spring & Swing (14:45)
02 - Open Space (10:34)
03 - Mahüsale (21:40)
04 - Triple Trip (04:05)


Quando o quarteto liderado pelo alemão Albert Mangelsdorff aterrou em Tóquio para um concerto no clube Dug, Takeshi "Tee" Fujii e os seus ratinhos ambulantes correram com os gravadores e os microfones de modo a parirem o quinto álbum da sua ainda prematura label. Na verdade, este hiato do borbulhante jazz japonês em virtude do entusiasmo pela disseminação do gaijin jazz seria deveras esporádico - acontecendo também, a título de exemplo, com Allan Praskin em "encounter" (TBM-07) -  sessão com uma natureza diferente da de Mangelsdorff, pensada muito mais como um cruzamento entre músicos japoneses e ocidentais do que mero registo passivo de vanguardas estrangeiras. Primeiro álbum gravado ao vivo pela produtora, Diggin' - Live at Dug, Tokyo funciona justamente como um banho de imersão naquilo que se poderia ouvir na capital japonesa na altura; sons perto da espontaneidade, intensos e de formas livres, sedutores para muitos intérpretes japoneses que começavam a dar os primeiros passos em direcção ao desmantelamento da tonalidade (Yosuke Yamashita, Masayuki Takayanagi, Kaoru Abe, etc.). É preciso sublinhar que as ramificações destas influências demonstram o quão rico em oferta musical o Japão era. Um país em que a tradição e a vanguarda do jazz se descobriam ao mesmo tempo.

Spring and Swing e Open Space abrem as hostes da libertinagem tonal. São claros exemplos de faixas endiabradas sob o signo da supremacia da improvisação sobre a composição. Em ambas (como em todo o álbum) destaca-se o saxofone rasgado de Heinz Sauer, às vezes reminiscente de um Albert Ayler dispensado de lirismos maiores. Noutras, mais raras, julgamos estar diante de um intérprete embriagado de swing. O último registo liberta-se do colete de forças da free form e dá lugar a momentos bem mais inspirados como acontece no final de Spring and Swing, desta feita a melhor faixa de toda esta empreitada. Os overblows em Open Space e a divagação constante da secção rítmica (nem as dedadas no contrabaixo de Günter Lenz nos são suficientes para extrair daqui grandes revelações) abre porventura demais o escopo improvisacional deste quarteto e aquilo que deveria ser inventividade rapidamente deixa antever alguns padrões mais inusitados.

Mahüsale, faixa que, devido à sua duração, poderia encher um lado de um LP, pode apaixonar os mais fervorosos admiradores desta faceta mais crua do jazz, enquanto que a este escriba só ligeiramente dedilhou o seu ouvido um pouco ansioso por mais impressão e menos expressão. O início é, sem dúvida, poderoso. O trombone de Mangelsdorff, qual OM budista, vibra no ar e convida o resto da banda a participar em tão misterioso e prolongado acorde. O saxofone-passarinho-chaminé de Sauer inquieta e faz o contrabaixo de Lenz raspar as cordas numa gravidade que nos faz querer saber onde vamos estar a seguir. Felizmente, o saxofone não tarda a regressar às notas de cabaret e sola, como que perdido num mar rítmico de "cada homem navega por si". Infelizmente, depois disso voltamos aos overblows e aos choques de uma bateria e secção rítmica mais agressivas. Esta última metade deixa cair a transformação musical mais abstracta em virtude de um clímax já pouco desejado. Mesmo nos momentos mais agressivos e intensos de improvisação, saúde-se porém a capacidade metamórfica do saxofone. Mas julgo já ter tecido os maiores elogios a Sauer.  

Triple Trip, como o nome indica, é uma viagem a três vozes. Sim, trata-se de um quarteto, no entanto, um dos instrumentos parece sempre alinhar-se a outro, estabelecendo quase sempre uma equação de semelhanças e diferenças tonais. Uma espécie de fórmula 1+1+(1+1) em que dentro do parêntesis se mudam os intérpretes consoante mais longe seguimos na viagem. Esta é, talvez, a faixa mais cerebral de um álbum por si já cerebral. Resta-nos fechar as portas do clube e imaginar o efeito destes avanços (e recuos) musicais nas mentes dos intérpretes japoneses, sedentos de novas liberdades e libertinagens. A resposta não tardaria a chegar logo no álbum a seguir, em TBM-06.


Classificação: ***
Melhor Solista: Heinz Sauer
Melhor Faixa do Álbum: Spring & Swing